sexta-feira, 27 de outubro de 2017

FRAGMENTOS DO PASSADO "DENTRO" DA INSPIRAÇÃO

COM "DENTRO" (DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA) CLARA LIMA COMPÕE E COMPARTILHA PEDAÇOS DE SUAS LEMBRANÇAS

A visão do objeto externa pedaços da memória da Clara
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  Análise:

A exposição fica dentro da biblioteca do SESC Jataí, no primeiro andar. Mas isso não quer dizer que o título foi inspirado nesse fator. 

  Subindo as escadarias que levam à exposição deparamos, logo na entrada, com o primeiro objeto: dois novelos de linha querendo “fugir” do local deixando para traz um fio de linha. A impressão, para os entendidos, é de que se trata de uma instalação. Na verdade é uma mostra de objetos. Para quem quiser entender assim, o fio do novelo pode servir de condutor à uma espécie de viagem no tempo, para o interior da biblioteca e ao acesso às obras. Talvez, mais precisamente, conduz para o interior das memórias da artista.

  Ao entrar e, após o protocolo no balcão, a primeira peça à frente é uma mala personalizada. Diante dela – e por ela – confirmamos que, de fato, a exposição nos leva à uma viagem ou a um passeio no tempo passado onde Clara Lima construiu sua trajetória. São recordações dela de um período aprisionado/amarrado. Mas não é tão simples entender assim. Muito pelo contrário. A forma da exposição exige uma leitura esperta do contemplador porque a mesma está repleta de simbologia; bem ao estilo dos artistas contemporâneos.

  O acesso à entendidos – ou quase - não impede, por exemplo, de suspeitar que tem algo diferente no ar. Talvez estranho mesmo, afinal, estamos lidando com as recordações de alguém.

  O leigo insensível vai dizer:
 “Poxa vida! Quantas caixinhas abertas com novelos, cordões amarrados, pedras e recortes sem nexo”!
  A questão é que a mensagem transmitida está de forma subliminar e camuflada com simplicidade e sutiliza. 

  Mas o que a artista quer? O que quer é compor e compartilhar algumas coisas que tranca com carinho na memória. Para outras pessoas pode não fazer muito sentido à primeira vista. Entretanto, se ficarem de mentes desobstruídas, poderão sentir toda a carga de emoção. Onde? Por exemplo: em um monóculo dos tempos de seus avós, nos novelos de quando ajudava a mãe a fiar e tecer na infância, em uma vendinha - poderia ser ali onde fazia compras -, em um desenho marcante feito para um convite ou em uma pintura expressiva ao museu histórico de sua cidade. Atá, é isso! Sim. Bem assim. Tudo está guardado dentro dela. Mas não só dela. Outras composições que fez também pode despertar lembranças sutis no espectador, como o objeto que tem um tijolo com uma chave e um desenho de uma casa (lembrança, por exemplo, do esforço que o espectador fez para edificar sua morada), um menina de cor com cabelos trançados e amarrados (pode ser lembrança daquela época dos estilos juvenis), um rolo de fita bem dobrada e guardado em uma das caixinhas (pode ser lembranças de algum objeto do vestuário que alguém já usou outrora); tudo isso não está explícito, tem que permitir o despertar de dentro da cabeça. Assim é a exposição da Clara Lima! Ela pega um pouco do que está morto e enterrado e emoldura. Aviva!

"Não é a visão do artista que faz a arte, mas a impressão que o espectador tem da obra. Se ele não viu arte, então não é". 
                                                                                   (Artes Visuais Jataí)
















Fotos: Artes Visuais Jataí

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A exposição de objetos, "DENTRO" (DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA) foi inaugurada na biblioteca do SESC Jataí dia 26/10/2017 e ficará aberta à visitação até 20/11/2017.